Um filme dirigido por Murilo Salles com Leandra Leal.
Baseado na obra de Clarah Averbuck.

“Pergunte ao pó” é um clássico da literatura contemporânea. Um clássico do tipo que nenhum professor vai te pedir pra ler, um clássico como os discos do Black Sabath ou um episódio de Caverna do Dragão, o mais distante possível do classicismo. Ou seja: um clássico dos bons.

O livro conta as aventura de Arturo Bandini (alter ego de John Fante nesse e em outros três livros). Criador e criatura são jovens americanos de origem italiana, com famílias católicas e caretas, buscando se tornar escritores na Los Angeles dos anos 20. Na verdade o personagem surgiu pela primeira vez no livro “Espere a primavera, Bandini”, lançado em 1938. Mas o romance que se tornou um clássico, e que fez de Bandini um ícone, foi mesmo “Pergunte ao Pó”, publicado no ano seguinte. Foi ele que chamou a atenção de um vagabundo também aspirante a escritor, numa biblioteca pública de L.A., e o impacto da leitura influenciou sua escrita pra sempre.

Pra sorte do Fante, esse cara acabou conseguindo mesmo se tornar um escritor, e da melhor estirpe dos malditos. O cara era Charles Bukowski, e ele retribuiu a inspiração à altura. Nos anos 80, quando a maior parte da obra do Fante já estava esgotada, Bukowski influenciou uma editora a republicar os livros, e escreveu um prefácio pra “Pergunte ao pó” no qual diz que Fante era seu deus, e que em brigas com sua mulher, na época da leitura, gritava pra ela “não me chame de filho-da-puta, eu sou Arturo Bandini!”. Começava ali um boom mundial de Fante e seu Bandini que segue até hoje.

De lá pra cá muita gente quis ser Bandini, e se sentiu Bandini. Os artistas, os fudidos, os gênios incompreendidos. O mais irônico é que, a essa altura, sem conseguir viver da sua literatura, Fante escrevia roteiros bobos pra Hollywood pra pagar as contas. Era o mais maldito dos malditos aumentando as vendas do seu ídolo vendido ao sistema...

Epílogo (Charles Bukowski)

Fante foi pra Hollywood,

Fante no campo de golfe,

Fante nas mesas de apostas,

Fante numa casa em Malibu,

Fante amigo de Wiiliam Saroyan.

Mas Fante, eu lembro de você melhor,

nos anos 30 morando naquele hotel perto do Angel´s Flight,

se esforçando pra ser um escritor,

mandando histórias e cartas pro Mencken.

O grito vinha dos colhões naquela época.

Eu ouvi.

Eu ainda ouço.

E eu me recuso a imaginar você

num campo de golfe ou em Hollywood.

Mas agora não importa.

Você está morto

mas a boa escrita continua

e o jeito como você me ajudou a escrever como eu queria.

Eu estou feliz de finalmente ter te conhecido

apesar de você estar morrendo

e me lembro de ter te perguntado

“escuta, John, o que afinal aconteceu

com aquele menina mexicana no Pergunte ao Pó?

E você respodeu “ela se revelou uma porra de uma lésbica!”

E aí a enfermeira veio com a sua grande pílula branca.

3 comentários:

Clara Averbuck disse...

"ídolo vendido ao sistema"? quem é que escreve essas coisas, hein?

Nome Próprio disse...

uau, descobrimos com essa frase equivocada que clarah averbuck lê nosso blog! valeu a pena o descuido. era uma ironia, clarah, mas cê tem razão de reclamar: ficou faltando ironia na ironia...

Anônimo disse...

todo mundo é vendido no mundo
pq ele, mesmo fora da era capitalista, antes, muito antes dela, já era assim.
seja em mercadorias ou em dinheiro
nos vendemos. A questão é saber qual o preço. Os grandes pintores no passado eram contratados do clero, da igreja... Pinte isso, pinte aquilo.
pq se doer tanto em falar que Fante era um vendido? Era sim!
ele fazia roteirinhos pra Ruliúde
e nem curtia. Fazia pela grana, pra sustentar o que realmente queria que era escrever esses livros espetaculares que ele tem.
então clara, seja menos religiosa
nao se machuque tanto por Fante
rssssssssssss
viu seu filme baby
ja mandei pra vc
bjs
rodrigo
bittencourt

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