Quando surgiram, os blog costumavam ser chamados de "diários virtuais". Com o tempo se descobriu que eles podiam ter muitas outras funções e utilidades, mas o caráter de diário, de lugar onde se escreve o cotidiano, nunca desapareceu. Isso que parece fútil, parece bobo, ganha peso quando é perpassado pela literatura, quando quem escreve deseja, mais do que expor fatos, construir textos.
Tudo isso porque ontem na sua coluna de O Globo o escritor José Castello fala sobre o livro "As aventuras de um coração humano", que subverte todos esses conceitos: é um romance baseado nos diários pessoais de um personagem inventado! Um "falso diário íntimo", nas palavras de Castello. O escritor, o ganense Wiliam Boyd, conta a vida de um homem usando passagens das páginas supostamente escritas por ele, mas na verdade tudo, narração e citações, vem da mesma fonte, ambas saem dos dedos de Boyd, ganhador de prêmios como o Booker Prize for Fiction, e o Los Angeles Times Book Prize, entre muitos outros.
E José Castello, invertendo ainda mais a lógica corrente, defende que só mesmo um livro de ficção para apreender a vida de alguém. Nem biografias nem diários, diz ele: "só a literatura pode agarrar a vibração da vida. Só ela dá conta do vago e do invisível, que biografas e confissões, solenemente, descartam." E ele conclui: "Para que serve a literatura? Para que cavemos, em nosso próprio rosto, o que somos."
Também no filme a construção da identidade passa pela construção literária, e nós aqui vamos correndo ler "As aventuras de um coração humano". Porque não é a toa que "Nome próprio" tem esse título.
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