"Um livro polêmico". "Uma declaração polêmica". "Uma instalação polêmica". Deveria ser somente um adjetivo, mas no mundo contemporâneo virou um elogio.
O valor intrínseco da polêmica é uma das invenções do mundo contemporâneo. E ao virar valor, cria distorções malucas. Porque polêmica deveria ser resultado do desejo real de dizer algo a que o ouvinte não esteja acostumado, um ponto de vista inesperado e cuja proclamação seja inevitável, de tão verdadeira. Quando o desejo da polêmica vem antes da necessidade de expressar essa visão, qualquer visão, qual o sentido?
Imagine uma pessoa que estivesse sempre em busca do espanto, que disesse cada frase antevendo as reações explosivas de discordância, que pautasse suas ações pelo impacto desestabilizador que elas pudessem causar em quem estivesse por perto. Ai, que cansaço! A vontade adolescente de chocar virando atestado de qualidade, e o mundo se enchendo de polêmicas murchas como bolas em fim de festa de criança.
Que prazer, pelo contrário, quando surge no meio da multidão uma voz que deseja ardentemente expôr suas verdades, e que tem no meio delas partes inesperadas e inusitadas, que nos fazem reagir com veêmencia porque nos sentimos obrigados a questionar, porque nossas verdades foram postas em cheque. Quando a polêmica é conseqüência e não objetivo principal, quando ela é resultado e não meio.
Longa vida à boa polêmica!
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