Um filme dirigido por Murilo Salles com Leandra Leal.
Baseado na obra de Clarah Averbuck.

"Uma casa maldita". "Aquele maldito menino". "Esse maldito trabalho". Ninguém diria que essas frases têm como objetivo falar bem dos respectivos casa, menino ou trabalho, certo? A palavra "maldito", por si só, carrega um inegável peso de coisa ruim, que se quer evitar. Certo?

Não no mundo artístico de hoje. Se o leitor se depara com as expressões "poeta maldito" ou "artista maldito" entende logo que se trata de um poeta e um artista que merecem atenção, poeta e artista de qualidade, mas incompreendidos pela "mídia", um poeta e um artista sem medo de chocar - e olha a polêmica aí de novo.

E aí virou moda ser maldito. Jovens autores cortam os pulsos na capa dos livros, beldades literárias descrevem suas noites de degradação moral no mundo milionário de Paris, cantoras expõe ao mundo sua sucessão de bebedeiras e semi-overdoses, e o mundo aplaude, e louva, e compra livros e discos.

Mas por que não é considerado maldito o autor daquele livro genial que editora nenhuma publica, e que trabalha de 9h às 18h pra pagar suas contas em dia, leva os filhos na escola de manhã e dorme cedo? Ele também não é visto pela mídia, mas ah, não tem glamour nenhum.

E parece que o valor das obras está na vida tresloucada de quem as compõe, e não na obra em si. E a gente quase se espanta quando descobre que a dona da voz que nos encanta faz comida no almoço e lava a louça no final, e que sua geladeira tem mais legumes que vodca. Que vida normal, que tédio...

Ser maldito não devia ser valor nenhum, apenas uma constatação de um estilo de vida. Estilo de vida aliás que, pra dizer a verdade, pode ser insuportável pra quem está por perto e, principalmente, pra quem vive.

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