Um filme dirigido por Murilo Salles com Leandra Leal.
Baseado na obra de Clarah Averbuck.

A construção da intimidade, assunto do post de ontem, fica ainda mais incrível quando além da equipe a multidão em questão é composta por uma multidão mesmo, como no caso da cena da partida de futebol do filme. Porque a equipe vira família, isso a gente já disse, mas o estádio cheio não vira nada além de muita gente reunida, sem nenhum amor pelo filme e em geral sem nenhum interesse em ter o seu cotidiano “invadido” por aquela parafernália de câmera e luzes e etc.

Quer dizer, isso quando a multidão não tem o maior interesse em toda a parafernália, em especial pela presença de um ator conhecido ali no meio, e aí haja equipe pra conter a animação da multidão...


Mas enfim, em qualquer dos casos a intimidade a que se quer chegar se torna infinitamente mais difícil de alcançar num estádio lotado do que num apartamento fechado, e por isso mesmo essas cenas são tão instigantes e acabam tocando a gente de um jeito diferente.

2 comentários:

Anônimo disse...

porque a projeção se identifica com a gente e a gente com ela.
o cinema é incrível, e nome próprio é comum.

Nome Próprio disse...

Nessa sexta-feira, logo após a última sessão de “Nome Próprio” no Ponto Cine Guadalupe, um homem entregou um texto datilografado na bilheteria.


A bilheteira o reconheceu, ele havia visto a sessão anterior e agora voltara 1 hora depois com esse pequeno texto em versos nas mãos. Sem querer se alongar em explicações, disse apenas o nome: Marcos.

O texto, ficamos sabendo depois, foi escrito dentro do próprio shopping, numa lan house perto do cinema. O que poderia ser uma singela cartinha de amor, se mostrou um pouco mais intenso:
"O homem
um bicho morto por si mesmo,
de desgosto
dos seus passos,
das suas palavras
morto de si mesmo
homem,
um nome próprio
a máscara pra esconder a cumplicidade entre seus atos, entre seu olhar
hoje morri sem acreditar
que o escritor de todas as histórias desse mundo
nunca morreu
um homem,
destituiu de si mesmo a chance de ser um homem
o homem se deixar ser um bicho
se destrói por dentro
se desmonta com o tempo
só pra sentir o gosto da dor
só para odiar o momento que ele mesmo escolheu
ter
o homem é a doença dele mesmo
os olhos fecham,
apenas para indicar que amanhã começará tudo de
novo
e sua lágrima se tornou lástima
e sua sombra seu perseguidor
você morreu ao nascer
e deixou viver a chance de querer morrer
para agora chorar e pedir perdão
você deixou cair
o momento passou,
passou e vc perdeu
antes era,
agora já foi
o bicho virou homem
eleito pelos próprios bichos
ele morreu
ele morreu porra
não adianta lembrar
melhor te esquecer
pois ao saber que lutei para ser homem
e morri como um bicho
para só depois de perder para o tempo
que fui virar homem
mas não para mim
para outros bichos, tão irracionais em vida quanto
eu
a vida que morreu
ela morreu
não adianta lembrar porra
a doença
a doença dói
dói ser doente
sou enfermo em minha própria vida
meu casulo é a cama
onde nunca vou desabrochar
meus olhos doem
cansados de estarem fechados
eu não consigo levantar
os passos cansados me impedem de caminhar
meu corpo rígido se desmancha
e me afundo nessa cama vazia
tão doente a cama...
tão enfermo eu, que acredito que o que dói não é
dor
e o que sinto
que é a falta de sentir
amor por mim mesmo ... "

Músicas de Camila