Um filme dirigido por Murilo Salles com Leandra Leal.
Baseado na obra de Clarah Averbuck.

"Hoje, os escritores jovens querem ser lidos na segunda-feira, ser
publicados na terça, ter um êxito extraordinário na quarta e na quinta ser
traduzidos em todo o mundo."
António Lobo Antunes

A mão trêmula, o olhar fixo e outro cigarro. + outro, outro, uma bola, outro cigarro; uma bebida para relaxar.

Não. Não é um comercial junk de cigarro nem de bebida. É Camila tentando escrever.

Nome Próprio – remix de Lucas Bambozzi é uma série de vídeos em que o artista desenvolve um olhar pessoal sobre o filme. No primeiro, postado no dia 27/06, a compulsividade inerente ao set de cinema, no segundo e no terceiro a compulsividade inerente à Camila.






Lucas Bambozzi é artista multimídia, documentarista e ocasionalmente faz pesquisas e curadorias em mídias digitais. Trabalha em vários meios e suportes tendo construído um corpo consistente de obras em video, filme, instalações site-specific, intervenções em mídia, videos musicais e projetos interativos. Seus trabalhos vem sendo frequentemente premiados e exibidos em festivais e mostras em mais de 40 países

Pra quem já assistiu ao filme ou quer saber mais sobre eles pode trocar idéias em nossas comunidades oficiais no Orkut e no Facebook.

"O tempo não existe onde não cabe o risco. E justiça não há nesse mundo."
em 'Toda Palavra' de Viviane Mosé

...dentro da comemoração de 10 anos do Cinema da Fundação, o centro cinéfilo de Pernambuco. Nesta segunda-feira, dia 30 de junho, às 19h30, com a presença de Murilo Salles. Não percam!

"Não há ideal feminino, como não há ideal de humanidade, nem o de raça pura. Nos deparamos com os seres concretos, expostos em uma subjetividade que rompe com o absolutismo de qualquer conceito ou pré-conceito. Nossos saberes devem ser as marcas, as falas, e o próprio discurso de um rosto que não quer ser máscara, mas inauguração da originalidade. Isto não é uma apologia ao feminino, mas ao humano."
De alguma mulher iluminada, copiada ao acaso!

"E assim como o gato lambe o próprio cu por ser capaz disso, eu mantenho esse blogue. Minha língua pode ter sido mais comprida, mas agora é mais eficiente." (Fernando Maatz no blog meu doce umbigo sujo)


Imagine a cena: uma avenida do centro de uma grande cidade na hora do almoço, lotada de transeuntes e carros. Você caminha para o meio da rua com uma escada e um megafone na mão, sobe no degrau mais alto e começa a gritar detalhes da sua vida, pra todo mundo ouvir. Parece absurdo? Ridículo? Pois seria a versão-mundo-real do que rola o tempo todo na internet, nos blogs que proliferam por aí.

O que faz alguém decidir, por livre e espontânea vontade, expor sua intimidade assim? Ciro Marcondes Filho, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, falou da popularização dos diários pessoais na rede em artigo de 2002 para a Folha de São Paulo:

“O incrível é que o formato [a internet] capturou outra mudança de atitude: as pessoas não desejam mais tanto ver, como no voyeurismo; hoje elas precisam mais ser vistas. A fantasia de ser o objeto do sonho de outra pessoa é bem mais forte. Por isso o reforço à pulsão de se mostrar. A tragédia do mundo atual é não ser observado. Homens e mulheres necessitam mais do que nunca do olhar da câmera para provar sua existência.”

Então é mero exibicionismo? Camila é apenas uma moça de intimidade despudorada precisando do olhar do outro pra se sentir viva, pra sua existência se tornar relevante? Você, que lê agora, é então um mero voyeur? E você, que lê esse blog mas também escreve o seu, faz também parte da horda de ex-invisíveis loucos por um pouco de atenção?

Murilo Salles discorda radicalmente da tese do professor:

“Tragédia é passar a existência desapercebido, como se só "iluminados" tivessem direito ao olimpo da exposição. Sim, pois o “Artista” é aquele que quer se expor e se expõe. A pulsão é idêntica! (de internautas & Artistas – aqui não estamos discutindo "resultados"). O que as pessoas procuram se expondo, relatando intimidades na rede, é ganhar um espaço de suas individualidades, de afirmação do seu ser (mesmo que infantil). Isso é um pré-requisito da existência. Um direito adquirido por existir.”

Hoje, vários artistas plásticos trabalham com essa questão, levando ao limite a quebra da intimidade. Um expoente internacional é a inglesa Tracey Emin, provavelmente a segunda jovem artista contemporânea de maior destaque, depois de Damien Hirst.

Em 1994 ela fez sua primeira mostra individual, na galeria White Cube, uma das mais importantes de Londres. A mostra se chamava "Minha Maior Retrospectiva" e nela eram exibidas fotografias pessoais, imagens de Emin destruindo quadros antigos, além de artigos que a maioria dos artistas não consideraria mostrar ao público, tal como um pacote de cigarros que seu tio segurava quando foi decapitado num acidente de automóvel. Esse voluntarismo de mostrar detalhes do que é tido como 'concernente à vida privada' tem se tornado sua marca registrada.

Mais tarde, em 1999, no Turner Prize, ela expôs na Tate Gallery a obra "Minha Cama", que era composta por sua própria cama desfeita, com os lençóis dessarumados, camisinhas usadas e calcinhas manchadas com sangue menstrual. A arte de Emin é freqüentemente autobiográfica. Um de seus trabalhos mais conhecidos, "Todos com quem Dormi de 1963-95", é uma barraca de acampamento com os nomes de todas as pessoas com quem ela dormiu realmente. Você pode conhecer mais o trabalho de Tracy aqui e aqui.

Outra artista brasileira que trabalha com essa questão, e que está "presente" com seu corpo no filme Nome Próprio é Alessandra Cestac, que acaba de entrar pro nosso blog com suas performances. Mais do que sua vida, ela usa seu próprio corpo como base pra sua arte, e no seu caso o despir-se é literal...

Levando em conta artistas como essas, fica claro que nem todo mundo que escreve em um blog quer simplesmente se expor. Muitas vezes o desejo é escrever, mais do que contar a vida. Fazer arte, mais do que se exibir. E como já refletimos no boxe literário há uns posts atrás, pode haver sim boa literatura além da mera vitrine virtual.

Agora, se a vida afinal está ali pra quem quiser ler e ver, se rola o strip-tease – ainda que sem a possibilidade do toque -, é possível demandar privacidade? No seu estilo pouco sutil e nada amigável, Clarah Averbuck defende que sim:

“só quem me conhece é que me conhece. podem fazer todo o tipo de análise barata, usar todo o tipo de psicologia fuleira, dissecar palavra por palavra de cada livro e cada post; só quem me conhece são os meus amigos, os que eu deixo chegar perto. (...) eu não sou próxima de ninguém que tenha tido contato apenas com o meu trabalho. é pessoal, sim, mas não é um sussurro no confessionário com o padreco ouvindo atrás. a minha vida é minha e não é nada do que ninguém imagina. arrumem uma vida pra vocês. e me deixem em paz.”
(Clarah Averbuck)

Paz? É fácil. Escreva cartas pros amigos, com envelope lacrado e entregue em mãos. Atualizando o ditado: caiu na rede é público.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o
meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se
lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a
barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o
espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu
sentimento.
Clarice Lispector (naturalmente...)

Junto com ruídos cotidianos de um set de filmagem, essa é a principal

"trilha sonora" do trailer que o artista plástico Lucas Bambozzi fez com o

material de bastidores do "Nome Próprio". A repetição, a aridez e por vezes a ação contida, são a perfeita tradução do fazer cinematográfico. O vídeo revela, em cerca de 1 minuto, a concentração da Leandra, a equipe super reduzida, o apartamento real em que as cenas se passam e o clima de intimidade que todos esses elementos juntos geram.

É um olho na fechadura do filme. Uma espiada consentida, mas nem por isso

menos reveladora.






Lucas Bambozzi é artista multimídia, documentarista e ocasionalmente faz pesquisas e curadorias em mídias digitais. Trabalha em vários meios e suportes tendo construído um corpo consistente de obras em video, filme, instalações site-specific, intervenções em mídia, videos musicais e projetos interativos. Seus trabalhos vem sendo frequentemente premiados e exibidos em festivais e mostras em mais de 40 países.

Sobra tanta coisa em Camila que algumas vão ficando para traz. Um sentimento, um rascunho de texto, um sorriso no canto da boca, uma cicatriz. Uma cicatriz?

Nem tudo passa! É justamente porque algumas coisas teimam em passar que Camila escreve. Escreve para poder lidar com os seus prazeres, com as suas dores. E escrevendo prossegue.

Mas, e aquilo que realmente ficou para trás? Os textos escritos na parece do apartamento alugado? O livro perdido? A roupa suja amassada e esquecida no canto do quarto?

Nesse post fazemos uma homenagem àquilo que ficou, que foi esquecido, às nossas sobras!

"A moral racionalista transformou tudo o que é natural e espontâneo nos
seres humanos em vício, falta, culpa, e impôs a eles, com os nomes de
virtude e dever, tudo o que oprime a natureza humana (...)
Nietszche, em 'A genealogia da moral"

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
Por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho
cruamente nas livrarias: preciso de todos.

"Mundo Grande", Carlos Drummond de Andrade

Qualquer pessoa pode PROMOVER uma pré-estréia do filme "Nome Próprio"!

Nosso propósito, desde o início, é fazer pré-estréias PROMOVIDAS E ORGANIZADAS por usuários/viewers do nosso BLOG Nome Próprio.

COMO?

É fácil, junte uma galera de amigos interessados e crie um e.mail tipo: nomeproprio.filme/portoalegre@gmail.com - se você for de Porto Alegre.

Junte uma galera e peça paraMANDAREM um e-mail, para esse que vc vai criar para a promoção, dizendo por que quer assistir ao filme Nome Próprio. Cada um dos seus amigos deve mandar seu próprio e-mail.

Quando você COMPLETAR no mínimo 100 e-mails recebidos, nos contate via o BLOGUE, passando a senha do e.mail que vc criou para podermos acessar. Se as frases forem interessantes e originais vocês ganharão o direito a uma pré-estréia do filme na sua cidade. O CONVITE será individual e SEGUIRÁ VIA E-MAIL, para quem entrou em contato com vc.

PRESTE ATENÇÂO, não é só no Rio e em São Paulo! Todas as cidades no Brasil, que tenham salas com projeção digital, poderão participar. Segue abaixo a lista das cidades. Portanto, se vc é morador de uma delas, se movimente, vasculhe os seus contantos, quebre a cabeça com as frases e depois se delicie com uma noite ao lado de Camila Lopes!

São Paulo.
Santos.
Rio de Janeiro.
Porto Alegre.
Curitiba
Belo Horizonte
Brasília
Salvador
Recife
Fortaleza
Belém
Campinas
Natal

O que dá corpo ao corpo?

No caso de Camila, são suas palavras.

O corpo apodrece. Ossos e músculos são muito frágeis, não têm vigor! Não sustentam o pensamento, nem sequer uma única dúvida existencial.

Estamos postando o ultimo vídeo da série sobre o impulso criativo de Camila, que agora aborda o seu corpo. O seu corpo nu, nu de palavras. O corpo de Camila nos momentos em que ela está mais vulnerável, indefesa. Nos longos e áridos momentos em que ela não está escrevendo.


Bate-papo com Rosanne Mulholland, a Paula de "Nome Próprio", às 19hs no Uol. Participe!

" A novidade é o único critério de toda a obra. Se não se acredita ter visto qualquer coisa nova, ou ter qualquer coisa nova a dizer, porque se escreveria, pintaria, teria uma câmera na mão? O novo é sempre o inesperado, mas também se torna eterno e necessário." Gilles Deleuze

Ricardo Garcia ou Rodrigo

- Muito prazer, eu sou Rodrigo.

- Sou de Ribeirão Preto. Tô em São Paulo por causa de trabalho, e tô querendo fazer amigos por aqui.

- Como você chama?

- Nada em Ribeirão Preto me desperta interesse algum, que me faça querer conhecer alguém de lá.

- Nossa!... Posse te oferecer um vinho para quebrar essa animosidade?

- Tô de vodka.

"Nós chegamos demasiado tarde para os deuses e demasiado cedo para o ser. Deste, o homem é um poema começado." Martin Heidegger

Entrega, cumplicidade, comunhão, garra, trabalho, superação, tolerância, paixão, dores. Muitas foram as palavras que já rolaram aqui no blog para tentar definir a relação intensa que ocorreu no set de filmagem de Nome Próprio entre os seus muitos autores: seus atores e equipe.

Marcela Lordy, diretora assistente do filme, escreveu um texto dando a sua versão de como foi esse set de filmagem tão diverso e intenso e, por isso mesmo, tão próprio.


Marcela Lordy / Diretora Assistente



Mais uma divina Camila da equipe. Murilo se cercou de muitas Camilas para criar este filme. “Marcelinha, você tem que me dizer se rola, se não está exagerado, se não é um olhar masculino. eu preciso disso.” E assim fui. Entrei muito antes e sai um pouco antes também. Muita intensidade. Literatura beat, o mundo rock e o cinema. Aprendi bastante com o Murilo. Camila era uma projeção da nossa identidade, liberdade, independência, força criadora e tesão pela arte. Foi um presente trabalhar com o universo feminino contemporâneo, de jovens artistas paulistanas. Mulheres de idéias, opinião, que sabem o que procuram, vivem da sua arte e buscam o amor. Mulheres que não temem seus desejos, opções existenciais, obsessões, dificuldades, prazeres, princípios e tão pouco os preconceitos que sofrem. E lá estava eu, cada dia mais Camila, e Leandra cada dia mais Clarah, e Clarah cada dia mais próxima e Leandra-Camila ia se desenhando bem na nossa frente. Fomos nos descobrindo ao ponto de nos encontrarmos, por acaso, às cinco da manhã na torre do dr. Zero em plena quinta-feira de pré-produção. Nenhuma palavra, apenas nossos olhares. Cumplicidade. Leandra fugida do laboratório no apartamento do filme e acompanhada de Clarah, e as duas visivelmente fundidas numa só Camila. Assim foi Nome Próprio. Assim aprendi morar sozinha, ser ainda mais romântica, comecei escrever e acreditar no que realmente quero: amar e fazer cinema.

“Eu quero o seu amor, mas não quero emprestado, ter hoje e devolver amanhã” Clarah Averbuck

"Assim como era praticado, todo o Modernismo não passava de um mal entendido. Eles o fazem para entrar no museu, não para vivê-los" Blaise Cendrars

David Katz, ator que interpreta o personagem do Guilherme, foi a uma das pré-estréias de Nome Próprio e nos mandou esse texto com suas impressões e inquietações com o filme, com São Paulo, com a vida.

Agora que já apresentamos o personagem Guilherme, está na hora de dar voz ao ator:

De onde vem à poesia nos tempos em que vivemos? O que me inquieta em "Nome Próprio" é essa busca dissecada conduzida por Murilo em um filme urgente que transborda ao publico delicadeza, dor, intensidade e principalmente: paixão.

São Paulo guarda em suas "gavetas" habitadas heróis de curiosos romances, romances que tão raramente sabemos qual é a epopéia de nossos vizinhos, sim ainda somos gregos e trágicos, e também ainda somos românticos e renascentistas em pleno século 21. Cada herói tem sua forma de relatar sua historia, Beatriz é escritora e faz de Camila o seu veiculo de narração, de poesia. Todos nós precisamos de poesia mesmo aqueles que não entendem ou não enxergam ela em sua vida por que não se entregam ou simplesmente não sabem se entregar à poética que rege nossas vidas, nossas historias.

Eu entendo que apenas com entrega total do espectador é possível ver "Nome Próprio", não poderia ser diferente já que todos envolvidos nesse projeto tiveram coragem de se jogar nessa coisa misteriosa chamada paixão para a realização do filme. Só assim era possível contar esta historia. Existiu em nós muita urgência de vida, de contar essa historia, de narrar para poder se libertar desse silencio que nos agride tanto em São Paulo (e acredito que em todas as grandes metrópoles), em nossos apartamentos, com nossas rotinas mudas, com nossos computadores, com nossa espantosa dificuldade de se comunicar verdadeiramente com alguém. Camila/Beatriz, Marcio, Guilherme, Paula, Daniel, todos os personagens do filme tentam resolver de sua maneira
a sua solidão a sua carência por alguém com quem consiga verdadeiramente se comunicar, no fundo é o que todos nós mais queremos: ser compreendidos e amados pela nossa essência, sem maquiagens.

O olhar não mente, a fotografia e a direção de arte do filme constrói algo tão cru que você se sente nu junto com Camila, despido de qualquer mascara e em busca de algo urgente que te resolva o corpo, e então junto com ela nos diluímos em busca de um Nome Próprio que nos de algum sentido a nossa narrativa.

Como ator vivi todo o processo muito intensamente, a poesia não suporta mentiras e logo por conseqüência esse filme também não. Conduzidos por Frederico Foroni no Estúdio Fátima Toledo passamos todos por um processo muito intenso onde a insegurança, a angustia e a delicia de viver uma paixão reinou até os términos da filmagem e posso dizer por mim que até hoje tenho cada vez mais essa urgência, com certeza hoje consigo ter mais paixão e poesia em qualquer coisa que eu faça.

Penso que se o publico fizer como todo elenco e equipe fez ao gravar e se entregar com Camila em busca de seu Nome Próprio ganhará no mínimo um olhar mais sensível e intenso sobre a vida.

(David Cejkinski)

"E no fim do processo resta dizer que a câmera do cinema funda uma consciência que se define não pelos movimentos que é capaz de captar, mas pelas relações mentais e psicológicas nas quais é capaz de entrar e registrar para todo sempre". Gilles Deleuze em A Imagem-Tempo

Estamos postando agora a segunda parte do texto que Murilo Sales distribuiu para a equipe, durante o processo de concepção de Nome Próprio.

Na verdade, esse não é um texto sobre o filme, mas sobre o próprio Murilo. Sobre as suas buscas pessoais, visuais, éticas. Um pedido de comunhão à equipe, de comunhão estética.

Um texto de quem está à procura. À procura de cinema, de um cinema de liturgia.



Que filme estamos fazendo? II
texto escrito em 26/02/2006


Cinema de Liturgia

Procurei por um tempo um conceito que pudesse definir um certo cinema que persigo e que gosto. Não sou um cineasta que faz o "cinema de poesia" Pasoliniano por definição, como Rui Guerra em Estorvo, ou Julio Bressane em Filme de Amor. Meus filmes são narrativos, gosto de emocionar, gosto do "como contar" histórias, quer dizer, gosto de linguagem.
Portanto, persigo um cinema que se constrói pela imagem, por isso gosto MUITO do L'Humanité e de Elephant, que são filmes que narram histórias mas que constroem sua forma específica e absolutamente criativa de narrar, pela imagem. Ser narrativo não é oposto de ser inventivo ou criativo. Bertolucci é narrativo e Godard faz cinema de poesia, não narrativo. Eu gosto muito de ambos.
Faço cinema para me entender no mundo e entender o mundo. Gosto de olhar, não é à toa que sou fotografo. Acho que esse filme vai ter uma levada contemplativa.
Temos que descobrir a forma para contar essa história real. Formular os conceitos que irão nortear nosso trabalho.
Então, quero definir um estética, uma ética cinematográfica.
Fui então procurar um conceito que definisse o que visualizo como estética narrativa imagística. Nessa busca, me lembrei da minha primeira comunhão. Sim, sou de família católica, principalmente meu pai. Fiz primeira comunhão. Vivi o ato da minha "primeira comunhão" com muita intensidade.
Essa lembrança me levou ao "insight" de que a intensidade simbólica da comunhão é muito cinematográfica e define com bastante clareza o que PROCURO quando penso como fazer um filme: fazer um cinema radicalmente cinematográfico.
O momento da "comunhão", com seu ritual, com os sinos tocando, com o mantra rezado pelo padre, o eco dos sons na igreja, o gestual do padre em "elevar a hóstia", o cálice de ouro, os crentes de joelho, tudo isso adiciona sentidos para criar uma narrativa para emocionar quem acredita.
Mas quero chegar nisso: é pura imagem, é pura encenação, a música (os sinos tocados pelo sacristão), o efeito (o eco, a espacialidade da igreja) a locação, o ator/personagem (padre) etc. Tudo é som+imagem, com poucas falas (mais mantras). Tudo formatando uma narrativa para emocionar.
Poderia dizer o mesmo de uma cerimônia de um casamento judaico, ou um ritual de iniciação no Candomblé. São encenações cheias de sentido narrativo com extrema força visual. Isso é CINEMA.
Por isso intitulo a idéia do cinema que persigo de "cinema de liturgia".
Ícones do meu cinema de liturgia:
GESTOS - gestual é uma "ação" muito cinematográfica. Procurar gestos delicados, intensos, descontraidamente desenhados. Falar com o CORPO. O gesto pensa.
OLHAR - Falar com os olhos. A história do olho, olhar. Um órgão investigador, com "pulsão própria", que cria uma linguagem própria. Uma forma particular e específica de produção de linguagem.
ATITUDE - a atitude é embutida, é gestual, é espiritual, é ideológica, é POLÍTICA.
Se expressa pela voz, pela entonação da voz, pelo vestir, pelo andar, pela ocupação do espaço. Sai pelo gesto. Sai pela fala, pelo conteúdo. Atitude.
TEMPO - A elaboração do tempo interno da ação e da emoção. O tempo da explosão histérica. O tempo da contemplação. O tempo do speed químico. O tempo de tomar uma atitude. A elaboração do tempo em suas diversas matizes, que sempre deve nos surpreender. A repetição (dos tempos internos e da ação) leva à banalização porque torna o tempo previsível. O tempo, sempre, tem que nos surpreender.
ESPAÇO - O espaço é nosso palco. Mas no cinema ele é tridimensional. O espaço fala. O espaço tem conceito. Nossa ação no espaço diz sobre nós e o que queremos, um dizer visual, icônico. Espaço é vital nesse filme.
ROUPA - Nossa segunda pele. Nossa atitude. Nosso desejo, nossa limitação. Nos representa e nos enclausura. Por isso, Camila despe-se.
RITUAIS CORPORAIS - Estou interessado nos rituais corporais de nosso cotidiano. Nosso desafio é converter atividades básicas tais como, comer, escrever num computador, tomar banho, limpar a casa, em processos esculturais. Usar o gesto para preencher o espaço de forma escultural, em dinâmica com a pulsão que emana da energia do personagem na cena. O processo escultural é o resultado formal do uso dessa pulsão gestual.
O corpo é o lugar de criação nesse filme.
Uma autenticidade que é construída na/pela ficção.
O que esse filme revela? A 'honestidade existencial' de cada um dos personagens. Por mais diversos e estranhos que os personagens sejam, eles têm que emanar uma integridade existencial para serem verdadeiros.
Nada nesse filme deve ser composto com um olhar de fora, de nós os artistas técnicos. Devemos pensar, criar e trabalhar a partir das subjetividades que irão emanar dos personagens. Vamos ajudar os atores a construir essa subjetividade.
Por exemplo: o figurino são roupas que os personagens usam na vida normal/real, os "looks" não são "looks", o "look" é uma palavra que vem da MODA e aqui não existe moda, existe a atitude de cada personagem.
Cada um deles tem que emergir com verdade orgânica e singular. Temos que construir essa subjetividade no todo da imagem que CERCA o personagem. No espaço, nos objetos, na roupa, nas cores, na luz, na locação.
A continuar... um dia.

David Katz ou Guilherme


- Tá querendo me embebedar e me comer?

- Tô.

- Que merda.

- Eu pago!

- Como assim, eu pago?

- Eu quero te comer e faço questão de pagar.

- Nossa! Assim vc tá me dando tesão.

"Cinema é a arte de esculpir o tempo" Tarkovski

"Criar uma literatura espontânea, vivenciada, tecida no coração sem os ardis

da cabeça. Escrever só sobre si mesmo. O poeta-obra-de-arte. Somos sagrados

em nossas próprias sementes. A viagem é para dentro de si mesmo."

Jack Kerouac

“A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta. Talhar a obra literária sobre as próprias formas do que não basta é ser impotente para substituir a vida.” (Fernando Pessoa)

A briga promete: de um lado do ringue, o escritor beat Jack Kerouac defende o uso da vida como matéria-prima da escrita, chegando a afirmar que a vida, em si mesma, já constitui a obra. Do outro lado, o poeta português Fernando Pessoa argumenta que a literatura existe justamente porque a vida não é suficiente, portanto tomá-la como base é manter-se longe da verdadeira arte. Por mais antiga que seja essa discussão, ela permanece relevante e se torna mais crucial ainda com a proliferação dos blogs de escritores, que geraram a expressão “literatura de blog”, rejeitada pela maioria dos que são assim designados.

Pra botar lenha nessa fogueira, separamos argumentos dos dois lados, de gente respeitada e importante. Alguns são conhecidos por suas posições, como o poeta João Cabral de Melo Neto, adepto do trabalho árduo e não do uso da vida em seus poemas:

“Não a forma encontrada

como uma concha, perdida

nos frouxos areais

como cabelos;

não a forma obtida

em lance santo ou raro,

tiro nas lebres de vidro

do invisível;

mas a forma atingida

como a ponta do novelo

que a atenção, lenta,
desenrola”

(João Cabral de Melo Neto)

Cabral acredita na palavra, não no fato. Na labuta, não no acaso. Não há na sua obra referências diretas a acontecimentos, não há sinal de elementos auto-biográficos: tudo é linguagem, tudo é literatura.

Alguns surpreendem. Quem diria que Guimarães Rosa, de prosa tão inventiva e trabalhada, afirmaria a presença da vida cotidiana em sua obra dizendo que “[gosto de] deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas”. Na realidade mesmo suas invenções de linguagem nascem de elementos do cotidiano. Foi uma viagem do escritor ao sertão mineiro que nasceu sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas”. Os dez dias de convivência entre vaqueiros renderam histórias, jeitos de contar, e uma percepção aguçada da fala sertaneja, que Rosa recriou brilhantemente. Recriou: ele era mesmo da vida como ponto de partida.

A escritora paulista Márcia Denser vai ainda mais fundo nessa linha, se colocando ao lado dos beats como Kerouac ao afirmar que “quanto a mim, meu “fazer literário” é algo construído no cotidiano, constituindo-se o viver e o escrever uma só e a mesma coisa.” Isso não impediu o jornalista e escritor Paulo Francis de exaltar sua escrita, situando-a “entre os raros criadores de linguagem, aqueles que têm algo de muito novo a dizer”.

Já James Joyce não nega sua preferência pelo trabalho incessante que toma o tempo da vida, já que declara que "a única exigência que faço aos meus leitores é que devem dedicar as suas vidas à leitura das minhas obras". Daí se deduz que, pra não ser injusto com os pobres leitores que iam gastar todas as horas da vida lendo seus trabalhos, ele só podia fazer o mesmo ao escrevê-los!

A defesa do uso da vida como ponto de partida tem adeptos entre novas e antigas gerações:

“A maior desgraça que pode acontecer a um artista é começar pela literatura, em vez de começar pela vida.” (Miguel Torga)

“A partir do momento em que as coisas estão escritas já não importa mais se aconteceram ou não: são apenas histórias que devem ser lidas e apreciadas como tal. (...) Não é tudo verdade, não é tudo mentira, não é tudo ficção - é arte.” (Clarah Averbuck)

"Desde logo se propôs ela combater o que chamava literatura livresca em nome do que chamava literatura viva. (...) Literatura viva é aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e por isso mesmo passa a viver de vida própria.”
(Florbela Espanca)

E quando o assunto chega na contemporaneidade dos blogs, tudo é novo e é ainda indefinido, dando margem a discussões ainda mais calorosas. A estudiosa de literatura Heloísa Buarque de Hollanda é uma das defensoras de que existe uma “nova literatura” circulando através da internet, e chegou a organizar uma exposição com essa produção. Ela declarou na época que "o nosso desafio foi selecionar o conteúdo da exposição com novos paradigmas, buscando novos padrões para o conceito de qualidade. É importante pensar sob um outro prisma, no qual o contexto flexível e descentralizado dessa produção também seja parte de uma forma literária”.

Mas alguns dos próprios escritores acham que não há diferença entre sua produção e a dos livros impressos.

“Repetindo, repetindo o que já disse tantas vezes, blog não é um estilo, tampouco uma tendência. É um meio, assim como um site ou uma revista on-line. A diferença é o formato, não o estilo, nem tudo é em primeira pessoa, muito embora eu acredite piamente que falando de nós mesmos chegamos muito mais aos outros do que falando dos outros sem propriedade.”

(Clarah Averbuck)

E vocês? De que lado do ringue vão ficar?

"A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver." Paul Klee

Há uns dias postamos o texto do Murilo,"Olho que olha", sobre a fotografia de
“Nome Próprio”. Murilo, que além de diretor, co-fotógrafo e câmera, teve como parceira na construção visual do filme a diretora de fotografia Fernanda Riscali.

Agora é a vez da Fernanda dar a sua visão desse processo, complementando,
acrescentando e até discordando do texto do Murilo. Afinal, esse blog é
pra isso mesmo: pra sobrepor informações, somar pontos de vista, gerar
debate. Participem!


Meu olhar sobre NOME PRÓPIO

Idéia, conceito, opção estética. Este foi o ponto de partida para a criação das imagens de NOME PRÓPRIO.

Duas pessoas num set, executando uma mesma função criativa, poderia ser um pesadelo com resultado catastrófico. Mas apesar da fotografia ter sido executada “por quatro mãos”, acredito que eu e Murilo sempre concordamos e tivemos muito claro em nossas mentes QUE FILME ESTÁVAMOS FAZENDO.

A idéia inicial de fazer um filme com LUZ EXISTENTE, uma captação quase documental, sempre norteou nosso trabalho. Nesse sentido, estudar a luz ambiente de cada locação e pensar como criar “traquitanas” para iluminar minimamente esses ambientes, foi fundamental.

Outra questão importante foi entender que estávamos fazendo um filme digital. Assumidamente digital, tanto no processo de trabalho quanto na característica das imagens. Nunca pretendemos trabalhar em película, nunca tentamos parecer película. E acredito que isso tenha sido um grande acerto.

Entretanto tenho que discordar do Murilo quando ele diz que o digital “nos liberta do poder do domínio de uma técnica”. Para traduzir idéias em imagens sempre necessitamos de uma técnica e para mim, NOME PRÓPRIO é um exemplo disso. Durante o processo do filme nós evoluímos, aprimoramos nossa técnica a serviço da idéia primordial de ser um filme do OLHAR. A meu ver, dominamos o digital com o tempo, com o conhecimento gradual da câmera, de como usar a luz a nosso favor e de como expor corretamente. Nossa concepção inicial nunca se perdeu, mas conseguimos criar imagens mais belas e mais poéticas quando entendemos como captar nossas idéias através dessa câmera. Por isso acredito que NOME PRÓPRIO é um filme OLHO, mas também um filme câmera e sobretudo um filme LUZ.

Concordo que “precisamos de pensamento, de linguagem, de conceito, de história e principalmente de poética” para fazer arte. O pensamento deve ser anterior a qualquer técnica. É ele que nos norteia e nos permite fazer uma obra coerente com nosso objetivo.

NOME PRÓPRIO é o resultado desse pensamento e da energia de todos que o compreenderam, num esforço conjunto para que ele se tornasse IMAGEM.



O espaço que nos acolhe, nos sustenta, nos engloba. Que fere. O espaço de Camila.

O segundo vídeo da série sobre o impulso criativo de Camila trata do espaço. Não do espaço cotidiano no qual vivemos sem nem perceber, mas no espaço criado, construído, esvaziado e novamente preenchido. Do espaço que criamos para nós mesmos. Ao olharmos para o espaço tomamos consciência da nossa liberdade. Do ato mais radical de liberdade, a sua recusa.


"A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira". Adorno

Vai rolar mais uma projeção exclusiva de "Nome Próprio" dia 21/06, sábado, às 11h45 da manhã, no Unibanco Arteplex @ Shopping Frei Caneca, em São Paulo/SP. Mande um e-mail para nomeproprio.filme@gmail.com dizendo porque você quer assistir ao filme. As respostas mais interessantes ganham nome na lista com direito a levar dois acompanhantes.

Forme uma turma de amigos para ir às sessões exclusivas. Mande fotos, vídeos, poesias, textos e ilustrações inspirados em "Nome Próprio" que o conteúdo produzido por vocês será publicado no blog. Se você já assistiu ao filme nas cinco projeções anteriores também pode participar enviando seu material.

Está chegando o grande dia! Confira as salas onde "Nome Próprio" estréia no dia 18 de julho, sexta-feira.

São Paulo: Espaço Unibanco
Rio De Janeiro: Unibanco Arteplex
Santos: Espaço Unibanco Miramar
Porto Alegre: Unibanco Arteplex
Curitiba: Unibanco Arteplex
Fortaleza: Espaço Unibanco Dragão do Mar
Belo Horizonte: Usiminas Belas Artes
Brasília: Embracine Casapark
Salvador: Sala De Arte - UFBa
Recife: Cinema da Fundação
Belém: Moviecom Castanheira
Campinas: Cine Jaraguá
Natal: Moviecom Praia Shopping

"Nada é verdadeiro. Tudo é permitido" William Burroughs

Há muitas instâncias em uma mesma arte. Fazer cinema. Pensar o cinema. Pensar o cinema dentro dos próprios filmes, metalingüisticamente. É possível também pensar o cinema ao fazê-lo, pensar de dentro mas olhando de cima, pra fazer melhor.

Foi isso que o Murilo resolveu fazer logo antes do início das filmagens de "Nome Próprio", que ainda se chamava "Uma história real". Esse texto, que vamos publicar em duas partes, propunha à equipe uma reflexão sobre o filme, sobre cinema, pra que todos juntos fizessem o filme que eles queriam fazer, e não o filme que surgisse. Um filme pensado, sem perder a espontaneidade.

Aqui é possível ver (ler) o início do processo de construção de "Nome Próprio". Uma espécie de making of dos pensamentos. Um privilégio, portanto, ter acesso a esse material. É pra ler, reler, e refletir...

Que filme estamos fazendo?

texto escrito em 28/01/2006 e enviado a equipe de Uma História Real

Este texto serve para o exercício de conceituação do filme.

Para ajudar a pensar e a investigar sobre o filme que estamos fazendo.

Esse filme, em primeiro lugar, é uma homenagem à ficção. É na ficção que o homem experimenta o seu melhor e pior, é o lugar onde ele formula seu ideário artístico e existencial, seu sonho, sua utopia; onde exalta de alegria, onde expõe seu sofrimento e sua perplexidade diante do desconhecido.

A ficção é a mais sofisticada forma de "representação" dos humanos. Podemos pensar num quadro de Renoir como uma ficção, ou qualquer outro pintor. A obra de Duchamps é FICCIONAL TOTAL, é pura "produção de pensamento".

Vamos ao que interessa. NOSSAS QUESTÕES:

Que cinema queremos praticar?

Do que trata esse filme?

Essas duas são as questões básicas sobre as quais devemos nos debruçar.

Pensar que tipo de cinema nós queremos fazer, que narrativa queremos construir.

Sem essa reflexão não vamos produzir nada que seja específico, singular, "desse filme", com a personalidade que o filme necessita.

Como fazer deste filme um filme delicado (pois se trata de um filme sobre feminilidade) e brutal (pois fala, ao fim, como sempre, sobre a vida) ao mesmo tempo?

Como filmar a história de Camila?

Essa história tem que emanar muita verdade. Mas não como num documentário, pois documentários são construídos pelo rigor/pensamento -montagem- no uso do acaso.

Na ficção trabalhamos muito mais com a construção de linguagem.

Construir uma história com uso, gasta pela sua trajetória, pelo seu tempo anterior.

Uma história reforçada por detalhes que nós, que trabalhamos criativamente no filme, vamos 'adicionar' de nossas histórias pessoais na história real. Só assim construímos algo com singularidade: verdadeiro?

Quais TEMAS abordamos nessa história real?

1- Desamparo: Camila se largou na vida. O filme é um rito da afirmação desse desamparo. Sem tal enfrentamento, não nos tornamos humanos viáveis. É um filme sobre desamparo, sobre gente desamparada, largada no mundo e que tem que dar conta de tudo sozinha(os)

2- Feminilidade: Um filme encarnado em uma MULHER. Inevitavelmente um filme sobre o feminino. Assunto cabeludo. Podemos iniciar conceituando que é um filme sobre excesso.

Excesso da presença da protagonista: desejos, obsessões, dificuldades, prazeres. Por isso, um filme difícil para mim, Murilo. Para tal tarefa me cerquei de mulheres sensíveis e inteligentes, desde o roteiro e, principalmente, na filmagem. Dependo da sensibilidade e inteligência das minhas companheiras de equipe. Preciso do olhar atento e da razão crítica aguçada das minhas colaboradoras para que o "olhar sensível" do filme seja, se possível, organicamente feminino.

"Enxergar o que temos diante de nossos narizes exige uma luta constante" George Orwell

Esse é o mundo de Camila. Nele ela se inscreve. Escreve. Uma escrita cunhada pela vida, por sua vida. Uma escrita das paredes, do chão, dos seus poros.

Camila vai até o fundo, até não ter quase nada. Só, ela pode criar o tempo, ouvir seu corpo, estar presente. Não são as frases que precisam ser criadas. Camila precisa ser criada. Recriada a cada tombo, a cada beijo, a cada nova musica. Na escrita ela é.

Começamos agora uma nova série sobre Camila, ou melhor, sobre o seu tempo, corpo e espaço. Sobre aquilo que faz dela o que ela é: uma escritora.

Primeiro e antes de mais nada,

O Tempo.


"Do sonho: sonhar é acordar-se para dentro" Mário Quintana

"A arte nunca pode ser reproduzida pela razão inteiramente desperta. A razão pode dar-nos a ciência, mas só a não-razão pode dar-nos a arte" E.H.Gombrich

Estamos postando hoje um texto sobre a fotografia de Nome Próprio.

Fotografia como extensão do corpo, do olho do diretor. Diretor que é fotógrafo e câmera. Uma fotografia nascida da relação de intimidade entre dramaturgia, atriz e espaço.

O diretor Murilo Salles apresenta a estética de Nome Próprio, filme olho.



FILME OLHO

Nome Próprio é um filme olho.

É o resultado da esfregação do olho de uma câmera com a potência do corpo encarnado de uma atriz.

Esse filme também é a história da conjunção do Diretor com o Fotógrafo num ser. É o primeiro Longa em que Murilo Salles/diretor é também co-fotógrafo e principalmente câmera.

Nome Próprio foi feito com uma equipe pequena por opção estética, porque é um filme sobre intimidade. Qualquer ruído entre a câmera e a atriz dispersaria a energia que fluiu entre um corpo sujeito e a lente.

Camila existe nas telas, pois estava presente no corpo e na alma da Leandra, habitou um espaço ‘elaborado’ por Pedro Paulo de Souza e sua precisão temporal foi esculpida por Vânia Debs.

Nome Próprio emana uma enorme energia que foi sugada do elenco/equipe.

É um filme-câmera, no recorte dos espaços, na exposição da exuberância barroca do corpo, da captação da luz naturalista concebida com a radical coragem de ser quase nada. Luz de lâmpadas de 100 volts, 200 volts ou florescentes. A luz que esculpe uma verdade. Uma luz ética, pois prescinde da sedução do efeito, do truque do falso contraste de pedestal enterrado. O digital sem enganação. O digital que vai dominar, pois é libertário.

Libertário de um poder da técnica do Diretor de Fotografia. Que encobre suas limitações exercendo esse 'domínio'. O uso abusivo da 'ferramenta' para encobrir a falta de pensamento estético, a falta de pertinência na adequação fotográfica e principalmente a ignorância mesmo. Agora, com o Digital, o olhar está libertado para além da técnica, pois no digital tudo vira preset.

O que interessa agora é a questão da inteligência do olhar. Do saber olhar.

Nome Próprio inaugura isso radicalmente. Não é um filme ‘da luz’ é um filme ‘do olhar’. Do desejo do olhar. Do pensar como olhar. Do construir o olhar. Que destaca inclusive o 'recorte da luz', mas agora não mais como uma técnica que se impõe, pois não é o que vai fazer a diferença.

O Digital é libertário como o ato Duschampiano: nos liberta do poder do domínio de uma técnica.

Não precisamos mais do domínio do pincel para fazer ARTE. Precisamos de pensamento, de linguagem, de conceito, de história e principalmente de poética.

Na fotografia ocorre o mesmo, precisamos da inteligência no olhar ( para recortar, decupar, enquadrar) para a construção da poética da imagem. Enfim, precisamos de inteligência, não de um Dom que Deus nos deu.

Nome Próprio foi feito também porque era para ser em câmera Digital, e ele é digital na forma e no conteúdo, assim procura sua coerência estética e formal.

SOBRE A FOTOGRAFIA do FILME
Texto escrito em 25/01/2006 para ser trabalhado com Fernanda Riscali / Diretora de Fotografia


Hoje não tenho a menor idéia de como é a fotografia que esse filme precisa. Temos que procurá-la, temos que encontrá-la. Ela será resultante dessa busca e das realidades que formos encontrando.

Fizemos uma OPÇÃO RADICAL: a via digital do filme. Isso tem a ver com o assunto do filme, o mundo virtual, a escrita via internet, o blog de Camila, e aí, na base disso tudo, o pixel. A estrutura do ASSUNTO está na base de nossa captação: o dígito. O zero e o um. A passagem da luz e a opacidade.

Essa opção vai influenciar/determinar completamente o trabalho de criação das imagens: sim, no UHR, estamos mais próximos de uma nova imagem, de uma imagem de constituição pixial, não granular. Uma questão nova.

A cor no pixel é o registro de três valores de brilho, um para cada cor primária: RGB. Não adianta tentarmos "aplicar" conceitos fotográficos/cinematográficos pois eles não irão funcionar da mesma maneira, apesar de podermos falar de brilho, contraste, iluminação, latitude, grão... e cor. Mas com um NOVO PENSAMENTO. Temos que aprender a pensar essa nova concepção pictórica. Pois, na fotografia digital vamos procurar "o que brota dessa nova base". Trabalhar o específico do digital ainda com compressão. SIM, porque estaremos trabalhando/gravando imagens com uma compressão 4:2:2 e projetando em 4:2:0. Não estaremos trabalhando com 2.2 milhões de pixels em nosso CCD (Alta Definição) com 1.920 linhas por 1080. Estaremos trabalhando no mundo muito menos definido e com menos informação de cor (720p). Não adianta querer brigar contra isso: é isso e vamos nessa, procurar uma imagem inteligente e pertinente nesse formato.

Nosso filme será um filme de câmera/um filme de olhar.

Portanto precisamos apurar a inteligência/sensibilidade do nosso OLHAR.

O conceito de "Cinema-Poesia" de Pasolini, eu substituiria aqui por "olhar-poesia" mantendo o rigor de percebermos o tempo todo que existe uma câmera como posicionamento estético.

PREVILEGIAR a relação de intimidade da câmera com CAMILA.

Esses são nossos CONCEITOS, nossos OBJETIVOS. Narrar com a câmera, uma imagem silenciosa que tenta desvendar os mistérios de Camila .

Existe um OLHAR FEMININO? O que é isso? Enquadramento, fotografia? Como criar uma "subjetividade feminina" na imagem? Como a câmera vai "exalar" um estamento feminino com seu olhar para as coisas e para a realidade?

COMO CONSEGUIR ISSO?

Essa é a nossa questão. E você como MULHER tem que me ajudar MUITO a pensar isso tudo. Esse é um primeiro "menu" de questões que temos que pensar e tentar responder, pesquisar, adormecer com elas, sonhá-las e resolvê-las.

Acho que o CONCEITO FOTOGRÁFICO vai surgir na junção de dois fatores:

1- A câmera que vamos usar; e, 2- As locações que serão escolhidas.

- Quando tivermos esses dois fatores 'sobre controle', vamos passar para uma fase experimental: gravar as locações com a câmera e ver como reagem a luz existente, de dia e à noite em todas suas sutis variações.

- Depois desse check-up, vamos decidir o que PODEMOS e o que DEVEMOS fazer.

- Nessa experimentação é que vamos DESCOBRIR o estilo visual e fotográfico do filme UHR.

Acho que do "paper" de PRODUÇÃO podemos tirar as seguintes questões:

1- Estudar um conceito de luz para cada locação - interior / exterior / dia / noite.
2- Resolver o problema de correção de cor quando misturarmos Luz Daylight com Lâmpadas Incandescentes (2.800K) na filmagem.
3- Criação, desenvolvimento e construção das "luzes", das traquitanas, e das "luminárias" auxiliares para a fotografia do filme.
4- Estudar qual a melhor e mais fácil traquitana para colocar a câmera pendurada no teto de ponta-cabeça.
5- Outra coisa IMPORTANTE E URGENTE PARA IRMOS PENSQUISANDO: qual o tamanho da nossa equipe? Quem são?: de elétrico, de movimento e o ajudante para os dois.

"Existe algo mais importante do que a lógica: é a imaginação" Alfred Hitchcock



A Camila de "Nome Próprio" tem origem na Camila da Clarah, que nasce da
Camila do Fante. Daniel não sabe nada disso, afinal ele está dentro do
filme. Mas ele sabe muito bem que a Camila dele, a mulher que ele deseja,
é leitora de John Fante, e adora "Pergunte ao Pó", o incrível livro que
narra as aventuras de Arturo Bandini tentando virar um escritor e a sua
história de amor e ódio por Camilla Lopez na Los Angeles dos anos 30.

Camila, a nossa, chama ele de pedante, mas é claro que adora. Ela que é
metade Camilla Lopez metade Bandini, vai fundo, como sempre, se apaixona
perdidamente e se abandona. A cantada literária vira um romance de cinema,
mas será que a vida real agüenta tanta intensidade?

"É preciso provocar sistematicamente confusão. Isso promove a criatividade. Tudo aquilo que gera contradição, gera a vida"

"O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões" Nelson Rodrigues


"Daniel Siqueira de Pádua. 27 anos. Musico frustado.
Migrei para a literatura panfletando poemas do Bukowski nos banheiros femininos da universidade.
Sou leitor atento do blog
Proponho troca de estímulos com a autora.
Desligo. Câmbio."


"Camila, vc é uma mulher de colhões. Isso é o suficiente para que eu beba em sua homenagem.
Vc deve ter sofrido para descobrir que escrever é mais importante do que morrer."
Isso é o suficiente para eu guardar seu nome.
Um beijo, o meu melhor beijo".
Daniel.


"Daniel, sabemos o quanto é dificil o oficio de viver.
Desata esse nó e venha na minha festa. Não tema. Meus colhões são uma metafora que você criou,
apenas isso.
Vamos, coragem. Apareça".
Camila.

"Excesso de vez em quando é bom. Impede a moderação de se tornar um hábito” Somerset Maugham



Edith Piaf canta “Je ne regrette rien” e a Camila afunda ainda mais de
paixão pelo Henri. Ele é fotógrafo, ele é francês, ele é lindo e deixaria
qualquer mulher louca. Mas a Camila é um pouco mais. Ela fica louca por
ele e de loucura se perde dele, perde ele. A Camila é um pouco demais. Ela
sabe disso, mas nem por isso sofre menos. E talvez, diferente da Piaf, ela
tenha sim os seus arrependimentos...

“Só não existe o que não pode ser imaginado” Murilo Mendes

Atenção! O prazo para o envio do trailer para o concurso foi alterado!

Estamos promovendo em parceria com o MySpace Brasil, o concurso de trailer do filme pra internet. Liberamos 20 minutos de trechos selecionados do filme e mais algumas músicas da trilha pra você montar do seu jeito!

Você baixa as imagens em http://sharebee.com/a15a5614 e as músicas em http://sharebee.com/c625598a, monta sua versão em qualquer software de edição e manda o link do vídeo pelo MySpace TV com os seus dados completos (nome, cidade, contatos, blog) até dia 6 de julho para o e-mail nomeproprio.filme@gmail.com

Os trailers mais legais vão ser linkados no MySpace oficial do filme. Um júri formado pela equipe de produção de “Nome Próprio” vai escolher o melhor, que vai fazer parte dos extras do DVD do filme, entrar com destaque na home do MySpace Brasil e mais uma surpresa que breve será revelada! O resultado sai no dia 12 de julho.

Se liguem que o tempo final do trailer é de 2 minutos, e o objetivo é chamar o máximo da atenção de quem está sentado na sala do cinema, comendo sua pipoquinha, antes do início da sessão!

Passo a Passo

1) Baixe as imagens em http://sharebee.com/a15a5614
2) Baixe as músicas em http://sharebee.com/c625598a
3) Monte um trailer de até 2 minutos em seu software preferido
4) Publique o vídeo em http://vids.myspace.com
5) Mande o link e seus dados completos para nomeproprio.filme@gmail.com até o 6 dia de julho
6) O resultado sai no dia 12 de julho

PS: O concurso é livre, quem quiser usar outra trilha pode. A que colocamos é para auxiliar, somente uma opção. Não será critério de avaliação usar ou não as músicas do filme.

Alex Disdier ou Henri

Conheci esse cara que dançava bem prá caramba, flertamos loucamente, estávamos quase efetivando o crime, quando chegou o amigo dele

Me apaixonei imediatamente por HENRI.

Caí de quatro, fiquei completamente louca por ele.

Não consegui dormir mais sem a mão dele na minha cintura, sei beijá-lo de manhã quando acordava.

“As únicas pessoas que interessam para mim são as loucas. Loucas para viver; loucas para falar; loucas para serem salvas; que desejam tudo ao mesmo tempo; que bocejam diante do comum e ardem, ardem como fabulosos fogos de artifício que explodem em mil centelhas entre as estrelas” Jack Kerouac



Começamos a postar a partir de hoje a série “Os caras de Camila”. São vídeos feitos especialmente pro Blog reunindo os melhores momentos dos 'caras' da Camila.

Camila é intensa, ácida, irônica e rock and roll até a última gota de sangue. E claro que uma moça assim tinha que ter muitos moços no caminho, até porque ela é do tipo que perde a amiga mas não a possibilidade de um novo amor. Ela não abre mão de experimentar os limites.

A gente estréia com Márcio, aquele amigo solidário que a Camila provoca de um jeito quase irresistível e que adoraria mudar de status mas acaba sempre se machucando nas confusões dela...

Um texto que o Murilo Salles escreveu sobre as questões e influências do filme, inspirou Luciana Baptista, 1ª assistente de direção do filme, a pesquisar, escolher e colocar diáriamente, durante as filmagens, nas ordens do dia (planejamento do dia seguinte de filmagem) uma 'frase' pra inspirar a equipe para a jornada daquele dia de filmagem. Era um ritual ler a frase antes de filmar.

A partir de agora a gente vai postar alguns textos escolhdos pela Luciana Baptista e outros que tenham a ver com o universo do filme, que pudessem estar na boca da Camila ou apontados em seu caderno de anotações, sublinhado em seus livros queridos, ou ainda citados por ela na mesa do bar, ou sussurrados no meio da noite pelos homens que ela encontra pelo caminho.

Pra começar:

"Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, lhe pediria que fosse embora, mas tenho uma mulher atravessada
na garganta." Eduardo Galeano

Munir Kanaan ou Marcio

"Márcio, é meu amigo desde os tempos de Brasília. Ele nunca deixou de ler um POST no meu blog nos últimos 300 anos”.

-”Então Márcio, escolhe, qual a tua fantasia? Fala! O que é que tu quer? Uma funkeira cachorrona, uma grupie californiana, uma gostosona do big brother? Fala Marcio, o que é que tu quer, fala!"




A gente já falou um pouco sobre as referências literárias de “Nome
Próprio”, os caminhos da construção da história através dos tratamentos de
roteiro, e agora chegou a hora de entrar na construção visual do filme.
Afinal de contas, um filme não é feito só de palavras, mas principalmente
de imagens. Nosso diretor de arte, Pedro Paulo de Souza que concebeu a cara de “Nome Próprio”, montou um teaser com fotos e imagens usadas nas referências desse processo, e editou com uma trilha sonora inusitada o Luar do Sertão, cantada pela Marlene Dietriche.

Acompanhe mais facilmente as redes sociais e ferramentas onde "Nome Próprio" está através do link MeAdiciona.com.

E finalmente temos um canal no YouTube. Agora você tem a opção "assistir em alta qualidade", embaixo do player.

Juliano Cazarré ou Felipe

Os personagens masculinos permeiam o filme e provocam na Camila as reações mais diversas. O Felipe é o primeiro que invade a tela na abertura de “Nome Próprio”, e quando eu digo “invade” estou sendo literal, não há como não sentir a intensidade embutida nessa chegada dele. É que, embora a gente esteja sendo apresentado pro Felipe, a cena que rola é uma despedida...

“Dois pesos, duas medidas, né Felipe? Comeu a prima... a ex-namorada... comeu Brasília inteira... e eu na minha. Agora, vem você e esse seu silêncio, querendo transformar o que foi espontâneo em mim, em culpa... Porque não posso comer um cara qualquer de um bar qualquer, heim? Você fica assim, nem aí, como se eu estivesse fazendo merda sozinha... a louca sou eu né Felipe? E você? Qual sua parte nisso tudo?”

Fiquem ligados que agora a cada dois dias vamos apresentar algum personagem novo aqui no blog!

Fechando a série “As caras de Camila”, mais uma faceta da nossa
personagem. Aqui se revela o seu humor muito particular, a sua ironia
ácida, as situações que fazem ela rir sozinha, as que fazem a gente rir
dela, e aquelas em que rimos todos, personagem e espectadores, separados
só pelo escuro da sala de cinema. Ou nesse caso, a luz da tela do
computador.



Não dá pra ninguém dizer que não reparou: estamos de cara nova, na onda do cartaz. Menos "pretinho básico" e mais iluminados, cheios de palavras espalhadas na tela, como o filme!

Taí o segundo vídeo da série "As Caras de Camila".

Esse é mais musical, mais radical, mais alcóolico... Mais rock & roll.



Esse Nome também não é meu.

O texto 'Um Nome que não é meu' da Clarah Averbuck sobre "Nome Próprio" abre com a afirmação: esse filme não é meu. Sim, claro, não é dela. Nem muito menos sobre ela. Por isso tenho notado algum desapontamento nos comments do Blog, dos que vão assistir o filme à procura de Clarah Averbuck. O filme, está escrito na tela, é uma livre adaptação.

Essa história de o que é meu, seu, nosso, vosso e deles serve apenas para a concordância verbal. A relação literatura /cinema sempre existiu. Esse é o terceiro filme que adapto para cinema. Antes de Clarah foram João Gilberto Noll e Fernando Sabino. Sempre é isso, uma violação de intimidade, uma penetração. Relações são construídas assim. Entrar na intimidade é violento, lindo e pode render frutos maravilhosos. E, tudo bem, porque ao final a obra literária estará sempre lá, íntegra e intacta. O quê temer?

Na história dessa relação existem bons exemplos de adaptações fiéis como Vidas Secas, onde filme e livro estabelecem uma tabelinha Pelé/Coutinho; e outra, igualmente feliz, mas muito infiel, a de Hora da Estrela, onde nossa escritora maior foi absolutamente traída por Suzana Amaral, que simplesmente limou de sua narrativa a protagonista da história e fez um belo filme. Cinema e literatura, sabemos, cada qual tem sua especificidade, seu tempo, sua estrutura narrativa.

Ainda por cima, hoje, tudo é um grande texto e o que interessa é o sentido que damos às nossas re-escrituras, como determinamos nossas escolhas. Todas as histórias já foram contadas, inclusive as da Clarah, todos os filmes já foram feitos e dizem que os cineastas filmam o mesmo filme. Eu tenho certeza que sim. Clarah escreve livros, narrativas literárias. Não interessa se fundadas em sua vida real ou imaginada, pois a operação da escrita é uma operação de ficção, pois você exerce o poder do narrar, que é sempre uma escolha, um recorte, uma visão de mundo, uma possessão.

Os livros que adaptamos são da Clarah. A Camila da Clarah foi o início da procura pela minha Camila, que é mais do Fante. E nela estão todas as Clarices, todas as Anas, as Cristinas, as Hildas, as Duras, as Espancas e, principalmente a Margarida. Camila se constitui espelhada num hipertexto de mulheres intensas, ricas, contraditórias, histéricas, generosas, íntegras, corajosas, tais com, inclusive, Santa Tereza D'Ávila que está nas telas copydeskada pelo Murilo:

Nada me resta
senão me perder em você,
senão morrer um pouco,
senão gozar sem saber
do que se goza.


Camila é uma personagem vertiginosa que principalmente existe porque encarnada em Leandra Leal. E que afirma o seu tempo regido por Vânia Debs. Nos 'tempos' da voz interna da Camila/Murilo, da Camila/Leandra, da Camila/Vânia. Camila tinha que encontrar sua voz singular e escrever seus textos no tempo da leitura na tela. E com essa visibilidade ganhar a dimensão poética que a personagem tem no filme. Um tempo e um texto minuciosamente tricotado pelo talento de Viviane Mosé, da Vânia Debs, da Elena Soárez e da Melanie Dimantas. E de todas as mulheres intensas e incríveis que se tornaram presentes.

Nome Próprio precisou dessas vozes para ser o filme que é. Portanto esse Nome também não é o meu. É dele, do filme.

Murilo Salles

Estamos promovendo em parceria com o MySpace Brasil o concurso de trailer do filme pra internet. É assim: a gente liberou 20 minutos de trechos selecionados do filme e mais algumas músicas da trilha pra você montar do seu jeito!

Você baixa as imagens em http://sharebee.com/a15a5614, baixa as músicas em http://sharebee.com/c625598a, monta sua versão em qualquer software de edição e manda o link do vídeo pelo MySpace TV com os seus dados completos (nome, cidade, contatos, blog) até dia 10 de junho para o e-mail nomeproprio.filme@gmail.com

Os trailers mais legais vão ser linkados no MySpace oficial do filme. Um júri formado pela equipe de produção de “Nome Próprio” vai escolher o melhor, que vai fazer parte dos extras do DVD do filme e entrar com destaque na home do MySpace Brasil. O resultado sai no dia 18 de junho.

Se liguem que o tempo final do trailer é de 2 minutos, e o objetivo é chamar o máximo da atenção de quem está sentado na sala do cinema, comendo sua pipoquinha, antes do início da sessão!

Passo a Passo

1) Baixe as imagens em http://sharebee.com/a15a5614
2) Baixe as músicas em http://sharebee.com/c625598a

3)Monte um trailer de até 2 minutos em seu software preferido
4) Publique o vídeo em http://vids.myspace.com
5) Mande o link e seus dados completos para nomeproprio.filme@gmail.com até o dia 15 de junho
6) O resultado sai no dia 20 de junho

Há uns dez dias atrás disponibilizamos a primeiríssima versão do roteiro do filme, escrita pela Elena Soarez, e adoramos a polêmica que ele rendeu! Teve gente achando esse roteiro muito melhor que o filme, teve comparações entre o roteiro, o filme e a obra da Clarah, teve gente argumentando que "Nome Próprio" é inspirado nos textos da Clarah e não uma adaptação, enfim, a coisa rendeu!

Rendeu tanto que resolvemos disponibilizar agora a última versão do roteiro, a nona, escrita pelo Murilo. Essa foi a que foi filmada mesmo, pra que vocês possam comparar agora o que existia no papel e o que ficou no filme. É super interessante ver como as palavras viraram imagem, e no caso desse filme, como elas continuaram palavras mesmo - só que escritas na tela.

Clique no link a seguir par abaixar o roteiro: 9º Tratamento: roteiro filmado

Músicas de Camila