"Nome Próprio" abre hoje às 21 horas a Mostra Competitiva da edição 2008 do Festival de Cinema de Gramado. Murilo Salles já ganhou o Kikito pelos filmes “Nunca Fomos tão Felizes”, “Faca de Dois Gumes” e “Como Nascem os Anjos".
A coletiva do filme acontece na segunda-feira, dia 11/08, às 10 horas na Sala de Coletivas do Centro de Eventos da UFRGS. Às 16 horas, na Casa D´O Bosque, rola um debate com o tema "Cinema e Literatura" com a participação de Murilo Salles e de Viviane Mosé.
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4 comentários:
Desculpem o tamanho do texto, mas publico na íntegra aqui o que publiquei no meu blogue:
Nome próprio.
Nome impróprio. Fui ao cinema sozinha, e como poderia deixar de ser?! Dei graças por terem recusado o meu convite. É um filme impróprio pra ser ver em companhia. Porque eu me via na tela e não queria que ninguém me visse me vendo. Que sentisse os momentos em que a minha respiração esteve em suspenso, ou quando ofegou, ou quando meu corpo se colou à cadeira e meus olhos vidrados na tela quase indagavam alto: como podem me pôr nua assim?!? Eu me via espelhada nos olhos da Leandra Leal, da sua Camila, como jamais havia. E quanto mais eu me espantava, mais eu me dizia: é um filme pra se ver sozinha. Não que a vida da Camila se assemelhe tanto à minha, não é isso. É seu modo de lidar com a escrita. O modo como nela se confundem arte e vida. O quanto que essa coisa de escrever é terapia. Como compulsivamente esfregar um chão que não se limpa. Queria escrever um poema e não consigo. Nome próprio já é pura poesia! E eu agora impregnada de poesia por todos os poros, saltando dos olhos, formando um eco sem fim nos meus ouvidos... Fazer poema, eu não consigo. Aí paro num bar da Lapa, esquina da Mem de Sá com Lavradio. Peço um chopp, dois, talvez ainda peça o terceiro ou quarto, até terminar de rabiscar essas linhas, ou esgotar a tinta da caneta, acabar o guardanapo... Niterói hoje era longe demais pra conter a ânsia da escrita. Precisava desse desgovernamento, parar pra respirar o ar que tinha inundado meus pulmões na sala de cinema. Não queria ter ninguém ao lado agora para debater o tema, não vale a pena. Precisava ver nesse guardanapo os guardanapos de Camila; ver nas lágrimas de Camila as minhas, as mesmas que há pouco mais de um mês eu largava no carro na corrida... (Corria de quem? Dele? De mim?) Na covardia de Daniel as mesmas mentiras, mesmas falsas promessas que eu criava, em que eu cria... Eu já me larguei no mar de Camila... já me larguei no copo de Camila... já me larguei queimada nas cinzas do cinzeiro de Camila, e me marquei por muitas das suas cicatrizes... Há um preço que se paga por querer demais a vida. A cada vez que sobrevivo, alguma coisa morre dentro. E a gente ainda espera quem nos ressuscite. Mas não é o quem. É o quê. O quem é o pretexto. O que nos salva é a escrita. O terceiro chopp já veio. Não era o ponto final ainda. Esse desgovernamento é o que governa a minha vida. Que se foda que é lei seca ou que amanhã acordo cedo! Há muito que eu não sentava no bar sozinha (e hoje nenhum mala veio me incomodar! Por que homem não pode ver mulher sozinha?!). Eu adoro estar em minha exclusiva companhia. ADORO! Eu me sinto muito mais eu porque não tenho em mim a projeção alheia. E cada um projeta no outro o que quer, isso foge ao nosso controle. Mesmo que eu me esforce pra parecer uma, aos olhos dos outros eu serei sempre outra. Sartre, sábio, categorizou: “o inferno são os outros”. Não “os outros” tal como são, mas como nos projetam/deixamos nos projetar em nós. Os outros não me interessam. Eu sou como só eu sei que sou. Só me encontro quando só. Eu queria me escrever em poesia e não consigo. Talvez porque a poesia pressuponha muito mais o leitor que essas linhas. Sei que o que escrevo vou pôr no blogue e alguém vai ler. Mas não me importa quem, nem como, nem quando nem por que. Agora só me interessa escrever. E vamos ao quarto chopp porque estou me sentindo viva. Alguma coisa pulsa na minha mão que treme. E quando escrevo assim esqueço que algum dia tive aulas de caligrafia. Aquelas letras redondinhas dão lugar a essas letras tortas que são só minhas. Tortas como eu, como os meus sentimentos, como a minha vida. Essa coisa que não se ensina. Essa sina. Escrever como quem respira. Não o ar do campo e seus encantos bucólicos. Mas o ar poluído das cidades, seu gás carbônico, sua nicotina, seu cheiro alcoólico. E se vive disso. Porque respirar é um ato involuntário de sobrevivência. (Ninguém consegue se matar por asfixia!) Ninguém escolhe o que respira. Respira porque lhe é imanente. E se lhe enfiarem éter na boca e nas narinas, é o desmaio. Ninguém foge à necessidade do corpo de inspirar. Senão é a morte. E o corpo grita mais forte: AR!... É assim que se escreve e é assim que se vive, como quem respira, como quem inspira, com o que inspira, expirar. Expirar com as mãos é o meio que o escritor encontra pra não morrer de excesso de ar. (Ou pra não pirar...) Eu vivo de loucuras momentâneas pra não morrer de cotidianos... Passem dias, meses, anos, ou segundos, primeiro e antes de tudo, eu aqui me imortalizo. No que escrevo do que vivo. E assino. Com meu nome próprio, impróprio, meus impropérios.
Beatriz Provasi, pedindo o 5º chopp, a saideira.
ps. à minha volta, os que restam no bar, todos assistem às olimpíadas na TV.
ps. 2. o garçom me trouxe a conta sem que eu lhe pedisse, larguei o bar vazio atrás de mim e vim...
ps. 3. enquanto passo a limpo os guardanapos nesta tela, encontro na geladeira minha última saideira!
ps. 4. leiam o filme, assistam o livro.
Beijos gratíssimos por este filme,
Bia
bia, não sei se vc viu o comment no seu blog. posso postar essa sua msg no blog do filme? bjoss
pode, claro, flávia! tinha respondido no meu blogue... beijos!
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